Nem sempre perceptíveis para quem está sofrendo, os sintomas do burnout podem ser amenizados se as empresas possuírem controle da jornada de trabalho dos colaboradores
Em setembro de 2019, Dani Santis, gerente de Marketing, foi diagnosticada com a síndrome de burnout, quando nem se falava sobre o assunto, apesar de o termo não ser novo. Foi somente no início deste ano que a Organização Mundial de Saúde (OMS) oficializou a síndrome de burnout como uma síndrome crônica e na nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11), como um “fenômeno ligado ao trabalho”.
Até chegar ao diagnóstico, Dani percorreu um longo caminho e mais de dois anos de tratamento. Ela também buscou muitas informações e grupos de apoio, entre eles, o Burnoutados Anônimos, criado por Carol Milters. Pelo que passou, ela faz questão de compartilhar sempre que tem a oportunidade, até porque muitos podem estar com esta síndrome e nem perceber, como foi o caso dela.
Na época, ela era responsável pelo marketing global de uma multinacional brasileira de logística, presente em onze países, com 39 escritórios, quatro fusos horários e três idiomas diferentes e, como resultado, praticamente não dormia. “Eu estava muito feliz, pois eu desenvolvia projetos e fazia entregas significativas. Porém, uma hora o corpo não aguenta”, afirma.
SINAIS
Mesmo tendo sinais, ela não percebeu que estava com a síndrome de burnout. “A gente entra em um piloto automático e não percebe. Eu ia para a empresa e não me lembrava do percurso que eu tinha feito. Quem me alertou foi um grande amigo que trabalhava comigo e que me conhece desde os 14 anos de idade. Eu estava sem memória e por isso, eu achava que tinha um tumor no cérebro. Fiz vários exames e todos deram negativos. Eu tinha dores de cabeça muito fortes, feridas pelo corpo, comecei a perder os cabelos e o sintoma padrão do estresse: meu olho tremia sem parar”.
Por orientação médica, Dani procurou ajuda de um psiquiatra e só se sentiu segura depois de passar por três profissionais. “Os dois primeiros nem falaram direito comigo, me deram remédio e eu não tomei. O terceiro foi indicação de uma prima e só depois que ele me diagnosticou é que me receitou um medicamento. A minha pergunta foi: “doutor, por quanto tempo? Ele respondeu que não existia um tratamento medicamentoso por menos de um ano. Eu chorei, pois nunca imaginei tomar remédio psiquiátrico por mais de um ano; acabou sendo por dois anos e dois meses”, relembra.
BULLYING CORPORATIVO
Dani acredita que tudo começou quando ela sofreu bullying corporativo. “Acho que esse foi o gatilho. Além do ritmo puxado, eu fiquei sabendo que tiravam sarro de mim, eu queria provar o quanto eu era ótima e comecei a exigir muito mais de mim. Quem ganhava com isso era a empresa, pois você vai dando tudo o que pode. Para uma pessoa workaholic, detalhista e que o tempo inteiro quer ser melhor que si mesma, se ela estiver abalada, fragilizada e sensibilizada, isso pode ganhar uma grande proporção”.
Ela conta que não teve apoio da empresa em que trabalhava. “Eu não a culpo, pois eu fui diagnosticada em 2019 e não se falava de burnout. A pandemia trouxe esse tema à tona. Eu falei para o meu chefe que eu estava em tratamento, com síndrome de burnout e expliquei o que era. Não pediram para o RH conversar comigo e nem me perguntaram se eu precisava de alguma coisa. É uma relação muito louca, pois ao mesmo tempo em que essa empresa me adoeceu, ela me deu a oportunidade de fazer entregas incríveis. Depois de um ano e dois meses de ser diagnosticada, eles me desligaram. Mas eu precisava tanto sair daquele lugar, que eu não me importei”.
O COMBINADO
Uma das formas das empresas ajudarem seus colaboradores é com o uso da tecnologia e a Soft Trade tem uma solução. Ela desenvolveu o Controle de Jornada, um software que restringe a jornada impedindo o acesso dos colaboradores em suas estações de trabalho fora do expediente ou do horário combinado, incluindo, os intervalos de interjonada, intrajornada e descanso semanal remunerado.
O que significa também qualidade de vida. Seja no modelo presencial ou no home office, uma elevada carga de trabalho pode levar os colaboradores a terem problemas de saúde e mentais, como foi o caso da Dani, o que também não é bom para a empresa ter o seu colaborador afastado. Segundo ela, “um workaholic é sempre um potencial a ter a síndrome de burnout”.
NOVO RUMO
Durante o seu tratamento, Dani continuou trabalhando na mesma empresa, em home office, até ser desligada. Até chegar à empresa atual, ela trabalhou em outras duas. Uma delas era de logística, o que a fez reviver tudo o que passou. Hoje, ela está em uma empresa de insumos e equipamentos hospitalares, e pela distância de sua casa, ela teve que fazer uma grande mudança em sua vida, o que antes para ela era impensável.
“Eu moro em Santana e a empresa fica em Cotia (SP). Durante a semana, eu moro mais perto do trabalho, o que há um ano seria impensável para mim (ela teve alta em novembro do ano passado). Agora, eu me sinto tão capaz e tão forte que eu posso fazer isso. É uma celebração por eu ter superado, mas ninguém se cura da síndrome de burnout, pois ela pode voltar. Você terá os mesmos resultados se continuar a fazer tudo da mesma forma”, alerta.
O maior aprendizado dela foi conseguir separar a vida profissional da pessoal. “Fortalecida do jeito que estou, consigo fazer com que o trabalho não interfira mais na minha vida pessoal. Eu tenho horário e não levo trabalho para casa, eu até penso, pois sou a mesma pessoa, mas na hora eu me dou a devolutiva: ‘Dani, na segunda-feira você vê isso’. Hoje, eu consigo olhar para os mínimos prazeres da vida e entender que eles são importantes”.
COMPARTILHAMENTO
Atualmente, Dani Santis participa de encontros de burnoutados: “falar sobre o burnout contando a minha experiência me faz muito bem”, afirma, o que para ela é uma retribuição, pois durante o seu tratamento, ela buscou vários grupos de apoio. “Pela jornalista Izabella Camargo, que teve burnout, eu cheguei à Carol Milters, que se tornou minha amiga”, comenta.
A Carol promove um grupo de autoajuda online, confidencial, gratuito: o Burnoutados Anônimos, a frequentar os encontros em setembro de 2020, durante muito tempo buscando apoio e há cerca de 8 meses, participo para dar apoio e acolher outras pessoas”. No ano passado, Dani participou de um programa da GNT sobre a ‘Sociedade do Cansaço’. E assim, ela vai contribuindo para a conscientização sobre o tema.
ORIGEM
O termo síndrome de burnout foi criado pelo psicanalista alemão Herbert Freudenberger, em 1974. Também conhecido como síndrome do esgotamento profissional, ele é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da doença é o excesso de trabalho.